quinta-feira, 22 de março de 2012

Sonnet Imité de l'Italien - Félix Arvers

Eis aqui eu outra vez incursionando na língua francesa, que quase não entendo comparada com as outras línguas que aparecem no blog. Esse soneto é uma équena lacuna quando procurei saber qual era o poema mais traduzido em português. Sem dúvidas é este, que ao que parece apresenta mais de 100 traduções!!! Segundo Ivo Barroso, em sua Gaveta do Ivo, existe até um caso de "elefantíase poética" (termo de Ivo) de um tradutor que nos "presenteou com 6 traduções do mesmo poema. Eis o Poema:




Sonnet Imité de l'Italien - Felix Arvers

Mon âme a son secret, ma vie a son mystère ;
Un amour éternel en un moment conçu :
Le mal est sans espoir, aussi j’ai dû le taire,
Et celle qui l’a fait n’en a jamais rien su.

Hélas ! j’aurai passé près d’elle inaperçu,
Toujours à ses côtés, et pourtant solitaire,
Et j’aurai jusqu’au bout fait mon temps sur la terre,
N’osant rien demander et n’ayant rien reçu.

Pour elle, quoique Dieu l’ait faite douce et tendre,
Elle ira son chemin, distraite, et sans entendre
Ce murmure d’amour élevé sur ses pas ;

A l’austère devoir, pieusement fidèle,
Elle dira, lisant ces vers tout remplis d’elle :
« Quelle est donc cette femme ? » et ne comprendra pas.

Soneto Imitado do Italiano - Félix Arvers

Tenho na alma um segredo e a vida é discrição:
Num momento surgiu esse eterno amor louco,
E não tem cura o mal, que está escondido, e não
Conhece o meu sofrer aquela que o causou.

Por ela passo sem ser percebido. Oh!
Sempre ao seu lado, e por isso em solidão,
E um dia acabará meu tempo nesse chão
Sem ter ou pedir nada que a alma desejou.

Deus a fez muito doce e terna, toda a vida,
Ela partirá sem entender, distraída,
O murmúrio de amor que sempre a seguirá;

A um áustero dever que piamente a anela,
Dirá lendo estes versos, todos plenos dela:
"Quem é esta mulher?" e não compreenderá.

Trad: Raphael Soares



O que posso dizer deste soneto? É gracioso, com metro preciso. É um poema célebre que possui mais paródias que Canção do Exílio de Gonçalves Dias ou O Corvo de Poe. Esse poema garantiu a imortalidade do poeta, mas ao que parece, só esse mesmo. Já foi traduzido inúmeras vezes, e ainda assim resolvi, sei lá por quê, traduzi-lo também.

Minha tradução é medíocre, e pesa-me isto!. Se quiseres uma boa tradução, sugiro a do grande Guilherme de Almeida (em Poetas de França) ou do Heitor Praguer Froés (em Meus Poemas... dos Outros). Vantagem da do Heitor Froés é que possui também a tradução de duas paródias do soneto (mas não posso defender nem a qualidade das poesias nem das traduções).

Por quê minha tradução é medíocre? Formalmente por possuir versos sem censura (como o 8º por exemplo) ou por conter censuras e elisões meio forçadas em alguns lugares (como a censura em "e" no 6º verso ou a elisão "do,e,a" do primeiro verso). As rimas são terríveis, principalmente na primeira estrofe, onde formo uma rima lou- com causou, considerando a ligação com o outro verso (louco/e). A rima de "Oh!" (para ser pronunciada ôou!) com desejou foi meio bizarra, fora a terminação em interjeição que é meio desagradável. Acho que também ficou meio forçado o uso de "anelar" como "prender" ou "estar comprometido", tomando como referência a origem da palavra, que vem de "anel". Enfim, uma série de fatores prejudica essa tradução, apesar de tudo, gostei dela, desgostando.

Pretendo fazer uma outra tradução dela em outra ocasião, me aguardem!

Nenhum comentário:

Postar um comentário